Imagem meramente ilustrativa |
Findo o dia, voltam os dois para o humilde barraco onde viviam. Nenhuma palavra, nenhum comentário. Somente se notava uma diferença naquele homem. Ao chegarem, a ordem: “todos de banho tomado, temos um compromisso!”. Compromisso? Isso é coisa de rico, da cidade grande. Mas lá foram eles, um a um, dos que ainda moravam ali. Pouco tempo depois estavam todos em cima da pequena carroça, rumo ao desconhecido.
Lá estava uma tenda, toda iluminada (coisa rara naquele lugar). Gente chegando aos montes, de todos os cantos. Joãozinho, bem como seus irmãos e seus pais, com a melhor roupa que tinham. Não sabiam, mas estavam numa igreja. Com o passar do tempo, algumas músicas entoadas, muita gente chorando, alguns orando em voz alta, outros falando umas coisas esquisitas que ninguém entendia, sobe ao palco um daqueles homens que tinha visitado seu pai, lá na roça. Apesar da pouca idade, por volta dos 8, 9 anos, Joãozinho já entendia bem das coisas, afinal, responsabilidade ele já tinha desde bem cedo.
O homem abre o livro da capa preta e começa a falar acerca de um Homem, que sem dever nada, pagou o mais alto preço que alguém pode imaginar. Foi humilhado, padeceu como nenhum outro e tudo sem culpa. Aquilo foi tomando Joãozinho de um sentimento nunca antes sentido e, quando menos esperava, já estava igual ao pai no trabalho e outros tantos naquele mesmo lugar: chorando. No final da mensagem aquele homem solicitou àqueles que tinham entendido a mensagem e que gostariam de se entregar para Jesus, que fossem à frente. Joãozinho estava lá, de joelhos, aos prantos. Não era emoção, não era sensacionalismo, mas arrependimento dos (poucos) pecados já cometidos. Queria conhecer mais Aquele de quem ouvira falar.
Com muito sacrifício a família resolveu comprar um daqueles livros de capa preta, a Bíblia Sagrada. Tornou-se leitura obrigatória naquela casa, todos os dias. Mas Joãozinho queria mais. Era o primeiro a acordar e o último a dormir e sempre estava fazendo leitura da mesma, ainda que com dificuldade pois pouco sabia ler. Orava continuamente e sentia a presença de Deus. O anos foram passando, Joãozinho já moço, começou a pregar aquela Mensagem que tanto falou em seu coração. Compromissado com Deus e com a Verdade, onde pregava o povo sentia a presença de Deus, se arrependia e mudava de vida. Um certo dia recebe um convite para pregar numa grande cidade. Sua vida nunca mais seria a mesma, a partir daquele dia.
Grande multidão lota um templo lindo, com som da melhor qualidade, recursos de iluminação que ele nem sequer imaginava que existisse, cadeiras confortáveis e tudo mais que se tinha direito. Foi recebido com muita festa, muita comemoração. Se sentiu importante. Quando o levaram para um estúdio para falar através de uma rádio então, ele ficou chocado. Começou a imaginar como aquele instrumento poderia ser útil para a propagação do Evangelho. Ficou mais maravilhado ainda quando o colocaram frente a uma televisão. Pensou consigo mesmo: um dia ainda terei um programa no rádio e na televisão para assim alcançar milhares, milhões de almas perdidas. Passado os dias na cidade grande, voltou para casa, mas não era o mesmo. Os dias se passavam e seu tempo era dividido entre a meditação na Palavra de Deus e uma forma de voltar à cidade grande e ter seu programa de rádio e na televisão afinal, assim alcançaria muito mais gente.
Dizia ele que Deus tinha lhe “depositado” uma grande quantia em dinheiro na sua conta e, juntando com outros fundos, conseguiu comprar uma pequena rede de televisão, quase falindo. O povo vibrava, achava aquilo maravilhoso, Deus estava naquela igreja, mais que nas outras. Tudo era diferente: Joãozinho agora, ao invez de ralar na obra, como fez boa parte da vida, malhava na academia particular que tinha em casa (e que casa!), não mais andava de carroça, só viaja de jatinho particular. Carro tem aos montes e algumas mansões, inclusive, fora do Brasil. Vida boa, fortuna, fama, tudo o que se tem direito. Sua mensagem agora já não era mais de salvação da alma, mas sim da salvação das riquezas, que crente que é pobre esta debaixo de maldição. Só prega em lugar grande, com muita gente. Se alguém o convida para pregar, um dos seus 20 secretários e porta-vozes apresentam o “orçamento”: além do cachê, hotel 5 estrelas, camarim exclusivo com 20 quilos de salmão, 87 tolhas brancas dinamarquesas, 3,5 litros de perfume italiano dentre outros.
E Joãozinho, aquele lá da roça, que chorava aos pés de Jesus dia e noite, buscando salvação da sua alma? Morrera, a muito tempo. Mas, pobre Joãozinho, não sabe (ou melhor, sabe mas finge não saber) que um dia aquele mesmo Jesus que tanto o consolou nas madrugadas geladas, no meio da pobreza, da humildade, Ele mesmo se encarregará de lhe dizer: “Saia de perto de mim, você que pratica a iniquidade. Eu nunca te conheci”. Acorda, Joãozinho, acorda enquanto ainda é tempo!
Fonte: http://semforma.blogspot.com/2009/04/joaozinho-o-ultimo-apostolo.html#comment-form
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