Um grande problema do estudo da comunicação mediúnica é testar a veracidade das mensagens.
Céticos acusam de que são fraudes ou anedotas e os espíritas não consideram necessidades de demonstrações mais criteriosas.
Sugiro um novo enfoque: buscar em outros livros de Kardec e seus continuadores afirmações e previsões inverificáveis na época em que foram escritas e depois se revelaram verdadeiras ou falsas.
Seria uma forma "indireta" de testar as teses de Kardec.
REENCARNAÇÃO:
Em O Livro do Espíritos (LE), ítem 222, afirma-se que a antigüidade da idéia da reencarnação seria um meio de provar sua veracidade. Isto é um tipo de falácia conhecido como "argumentum ad antiquitatem", i.e., afirmar que algo é verdadeiro só por ser antigo ou "porque sempre foi assim".
Vejamos o que diz Kardec:
1)- “Seja, porém, como for, o que não padece dúvida é que uma idéia não atravessa séculos e séculos, nem consegue impor-se a inteligências de escolas, se não contiver algo de sério. Assim, a ancianidade desta doutrina, em vez de ser uma objeção, seria prova a seu favor.”
Me parece que aqui a palavra “prova” tem um significado mais de “indício”.Independente disso, o que ele quis dizer é que, já que séculos se passaram e ninguém conseguiu provar que a reencarnação é uma mentira, por nenhum meio, isso é um indício de sua autenticidade.
2)- Em O Evangelho Segundo o Espiritismo (ESE), cap IV; aparece a idéia de que Jesus ensinou a reencarnação ao falar com Nicodemus (Jo 3.1-2) a respeito de que era preciso "nascer de novo".
Como para este a noção de reencarnação era estranha, perguntou com sarcasmo como era possível "nascer uma Segunda vez".
O motivo da confusão entre os dois seria, segundo modernos exegetas, o fato de no texto original grego o termo "de novo" ser traduzido por; "anothen", que também pode ter o significado de " do alto".
O segredo é este: Jesus referiu-se a "do alto" e Nicodemus entendeu "de novo.
Não há aqui nenhum pleonasmo inútil. Jesus já nos considerava renascidos; do contrário, diria que nos é necessário ‘nascer de novo’ para vermos o reino de Deus.
3)- No mesmo capítulo há a sugestão de que João Batista era Elias, baseando-se nos versículos de Mt 11.12-15. Tudo bem, se não fosse o fato de Elias nunca ter morrido, mas ascendido aos céus, arrebatado por um redemoinho (2 Rs 2.11). o ministério de João era "no espírito e no poder de Elias" (Lc 1.17).
A narrativa diz que Elias e Eliseu estavam “caminhando e conversando”, quando um “carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho”.
Segundo uma opinião, Eliseu teria visto a separação entre o corpo físico e o perispírito de Elias, justificadas a alusão a “carros de fogo” e “subida ao céu” pela luminosidade espiritual do profeta... Entretanto, julgamos ser pouco razoável atribuir-se a um espírito deprimido e responsável por numerosos crimes (Elias mandou matar vários infiéis) tamanha luminosidade, apesar de sua condição de profeta. [...]”entrou pelo deserto caminho de um dia, e foi sentar-se debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte, dizendo: Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais.(1º Reis, XIX,4.)”
4)- A alegação de que ressurreição é a reencarnação entendida pelos judeus do séc. I. Como eles não criam em novo nascimento, acreditavam que no retorno ao mesmo corpo.
Segundo Kardec o certo seria crer em reencarnação, visto ser impossível reagrupar nossos átomos após o corpo se decompor.
Isto é falso, pois Paulo pregou a ressurreição final em um "corpo glorificado", distinto do atual e "se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e vã a nossa fé..." (1 Co 15.12-55).
5)- Em Gênese (Gen), cap XV, 65, Kardec dá a idéia de que Jesus teria dois corpos: o carnal e o fluídico.
O primeiro foi sepultado e o segundo foi o que teria aparecido para os apóstolos. Isto contradiz as palavras do próprio ao afirmar: "Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai, pois um espírito não tem carne e osso, como vedes que eu tenho" (Lc 24.39).
Temos 3 explicações para essa passagem.
1ª-Jesus não disse essa passagem.
Na Bíblia de Jerusalém, de cuja tradução participaram católicos e protestantes, em nota de rodapé a respeito da passagem de Lucas 24,39, lemos:
“Este v. deve ser conservado, apesar de sua omissão por bons documentos”.
Isso significa dizer que apesar de não constar dos documentos originais (bons documentos) esse versículo foi mantido (conservado). Essa é a prova de que Jesus não teria dito isso. Esse versículo foi introduzido posteriormente.
(Colaborou para essa resposta Paulo Neto, colaborador do site www.espirito.org.br)
2ª-Jesus realmente disse essa passagem, mas não disse “espírito”, disse “fantasma”.
Em algumas traduções, ao invés de “espírito”, encontramos “fantasma”, dizendo mais respeito ao fenômeno de vidência, ou seja: Jesus dizia que não era um fantasma, um espírito desmaterializado, e sim que ele estava se apresentando materializado, tanto que pede para que o toquem, mostrando que um fantasma não tem carne nem ossos, e dizendo que era ele mesmo, materializado, para diferenciar da vidência imaterial, como quando ele se apresentou intangível para Maria Madalena.
3ª- Jesus realmente disse essa passagem do jeito como foi escrita.
Vale a explicação anterior. Jesus queria dizer que não era um espírito do jeito que normalmente se imaginava, ou seja, intangível. Daí ele dizer que um espírito (intangível) não tinha carne nem ossos, e que era ele mesmo (tangível). Daí pedir para que o tocassem, para mostrar que estava num estado diferente de quando havia aparecido a Maria Madalena.
(Colaborou para essa resposta e a anterior José Reis Chaves, colaborador do site www.espirito.org.br)
6)- “O Sol não seria um mundo habitado por seres corporais, mas um local de reunião de Espíritos superiores que, de lá, irradiam seus pensamentos para outros mundos (...) Todos os sóis parecem estar numa posição idêntica" (..)"Considerando do ponto de vista de constituição física, o Sol seria um foco de eletricidade ".
De fato, o Sol emite uma quantidade gigantesca de cargas elétricas, que viajam no espaço através do chamado vento solar, composto principalmente de prótons, partículas alfa, elétrons e fótons. Neste sentido, pode-se dizer que o Sol seja um foco de eletricidade. Agora, energias sendo irradiadas pelo Sol. Será que a Astrologia tem razão? Por que não foi adiantado que o Sol é na verdade um plasma superaquecido, onde poderosas reações de fusão em seu núcleo lhe dão vida. Tudo bem que isto estava além da ciência da época, mas seria uma revelação poderosa que daria grande crédito.
7)- Em Gen, cap VI, 25 se encontra uma declaração escabrosa sobre a Lua, feitas pelo espírito de Galileu, através da mediunidade de Camille Flamarion
"As condições em que se efetuou a desagregação da Lua pouco lhe permitiram afastar-se da Terra e a constrangeram a conservar-se perpetuamente suspensa no seu firmamento como uma figura ovóide cujas partes mais pesadas formaram a face inferior voltada para a Terra e cujas partes menos densas lhe constituíram o vértice se com esta palavra se designar a face que, do lado oposta à Terra , se eleva para o céu. É o que faz que esse astro nos apresente sempre a mesma face. Para melhor compreender-se o seu estado geológico, pode ele ser comparado a um globo de cortiça, tendo formada de chumbo a face voltada para a Terra."
"Daí, duas naturezas essencialmente distintas na superfície do mundo lunar: uma, sem qualquer analogia com o nosso, porquanto lhe são desconhecidos os corpos fluídicos e etéreos; a outra, leve, relativamente à Terra pois que todas as substâncias menos densas se encaminharam para esse hemisfério. A primeira, perpetuamente sem águas e sem atmosfera, a não ser, aqui e ali, nos limites desse hemisfério subterrâneo; a outra, rica em fluidos, perpetuamente oposta ao nosso mundo".
As viagens espaciais comprovaram que a face oculta da Lua não se difere em natureza da que fica voltada para nós, sendo igualmente inóspita. A aparente imobilidade da Lua se deve ao fato de sua órbita ser síncrona: rotação em torno do eixo e translação em volta da Terra têm a mesma duração (28 dias).
8)- Do mesmo espírito, no mesmo livro, é a afirmação de que Marte não possui satélites. Em 1877, foram descobertas as duas luas marcianas, menos de uma década após a morte de Kardec.
9)- Em LE, cap III, 55:" São habitados todos os globos que se movem no espaço?" [Resposta dos espíritos]: "Sim..."
"Segundo os espíritos, de todos os mundos que compõem o nosso sistema planetário, a Terra é dos de habitantes menos adiantados, física e moralmente. Marte lhe estaria ainda baixo, sendo-lhe Júpiter superior de muito, a todos os respeitos..."
"Muitos espíritos, que na terra animaram personalidades conhecidas, disseram estar reencarnados em Júpiter...". Quando nossas sondas se lançaram ao espaço e chegaram as explorar de perto outros planetas, algumas até pousaram em suas superfícies (p.e Marte e alguns asteróides), constataram ambientes hostis à vida animal. Talvez micróbios possam sobreviver em alguma lua de Júpiter ou de Saturno e no subsolo marciano, mas só. Alguns espíritas tentam sair desse impasse alegam que a vida nos outros orbes do sistema de uma natureza diferente da nossa e invisível para nós. Este pensamento acarreta um problema: tal hipótese não pode ser comprovada ou reprovada, não há como saber se é verdadeira ou não. Para uma doutrina que se diz ter cunho científico, essa postura de contornar os problemas que aparecem os tornando inverificáveis é, no mínimo, equivocada.
Quanto ao fato de espíritas tentarem sair desse impasse alegando que a vida nos outros orbes é invisível, concordo que não é essa a atitude que se deva tomar.Realmente não é uma postura científica, mas lembro que são só alguns, não todos. O que eu quero agora discutir aqui é o que os Espíritos Superiores disseram e a possibilidade de vida em Marte.
10)- A ressurreição de Lázaro (Gen, cap XV, 40) seria apenas uma letargia e o cheiro ruim, uma suposição de sua irmã, afinal já se passavam 4 dias de sua morte.
Certo que certas pessoas que aparentam estar mortas não estão (este pode ter sido o caso da filha de Jairo, Marcos 5.24), mas esta não era a situação de Lázaro pois em Jo 11.11-14 Cristo diz claramente que ele morreu.
Suas palavras: "Lázaro adormeceu, mas vou para que o desperte". Lamentavelmente não foi entendido. Apesar de tudo o que haviam aprendido na longa convivência com o Mestre, e com os segredos do Reino, os discípulos não entenderam. Nem sequer raciocinaram que ninguém dormiria dois dias seguidos sem despertar; nem que, num sono normal, não haveria mister que o Mestre se abalasse da Galiléia à Judéia só para despertá-lo, coisa que qualquer pessoa poderia fazer. Mas os melhores homens têm seus momentos de obnubilação mental: aliquando,bonus dormitat Homerus.
Diante da incompreensão absoluta dos discípulos, o Mestre vê que tinham que ser tratados como profanos. Então fala "abertamente": "Lázaro morreu" (apéthanen, do verbo apotnêskô, derivado de thnêskô, da mesma raiz que thánatos; essa raiz tomou o sentido, em grego, de "morrer", embora o significado original do sânscrito de onde provém, dhvantá, seja "coberto, velado, escuro" - cfr. Émile Boisacq," Dictionnaire Etimologique ele la Langue Grecque", Heidelberg, 1950, págs. 333; e Sir Monier Monier-Williams, "A Sanskrit-English Dictionary", Oxford, 1960, pág 252).
11)- No ítem 48 do mesmo capítulo, a multiplicação dos pães é atribuída ao fascínio "por sua palavra e talvez também pela poderosa ação magnética que ele exercia sobre seu auditório, não sentissem a necessidade material de comer".
Uma leitura acurada de Mt 14.13-21 revela que a fome era física, que " todos comeram e se fartaram" e que foram recolhidos doze cestos cheios de sobras.
12)- No ítem 47, ele não fornece nenhuma explicação plausível para a transformação da água em vinho ocorrida nas bodas de Cansá (Jo 2.1-12).
Jesus "era de uma natureza demais elevada para se deter em efeitos puramente materiais" e que isso "o teria nivelado a um mágico" (duvido que alguém nascido em manjedoura, sendo digno de berço de ouro, teria essa arrogância). Uma saída também tentada foi dizer que não foi um milagre, mas um parábola como tantas outras que Jesus relatou. O problema é que isso se trata de uma narrativa histórica, em que aparecem, além de Jesus, sua mãe e seus discípulos; e é primeira referência a um milagre de Jesus nesse evangelho.
13)- Poder-se-á conhecer o tempo quue dura a formação dos mundos: da Terra, porexemplo?
“Nada te posso dizer a respeito, porque só o Criador o sabe e bem louco será quem pretenda sabê-lo, ou conhecer que número de séculos dura essa formação.”
Exames radiológicos em rochas estima a idade da Terra em 4,5 bilhões de anos. A teoria do Big Bang estima a idade do universo entre 15 e 20 bilhões. É um traço positivista achar limites da ciência estão dentro da experimentação direta. Comte, o criador desta corrente filosófica,não achava que se pudesse, por exemplo, saber de que são feitas as estrelas. Ainda no século XIX, o estudo do espectro luminoso da luz destas, permitiu saber de que gases elas são feitas. Esta opinião é de Kardec ou do Espírito de Verdade?
14)- RACISMO: Quero deixar claro que nunca conheci nenhum espírita racista e desconheço qualquer atitude preconceituosa dentro de seus centros. Entretanto, esta passagem existe. Talvez por "Obra póstumas" ter menor importância em relação aos outros livros, muita gente desconheça esta opinião de Kardec. Ele foi muito avançado para seu tempo em questões como igualdade de direitos entre os sexos e divórcio. Mesmo assim, aparenta ter defeitos próprios do ambiente em que viveu, dentre eles uma visão eurocêntrica. É mais culpa da época que do homem. O que realmente intriga é como espíritos mais "evoluídos" e mais à frente que ele não o avisaram do erro de considerar os europeus referencial absoluto de beleza e elevação.
15)- Espiritismo, Ciência e Lógica: "Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará" (A Gênese).
O tempo passou. O século XX foi pródigo em destruir paradigmas, a começar pela Física clássica. Da constatação de que ela não explicava satisfatoriamente certos fenômenos surgiram dois novos campos: a Relatividade de Einstein e a menos famosa ao grande público, mas igualmente revolucionária, Mecânica Quântica. Os elétrons, prótons e nêutrons não podem ser imaginados como pequenas coisas independentes do mundo restante. O mundo quântico nada tem haver com essas coisas, que podem ser apalpadas. Apenas permite aos cientistas relacionar diferentes observações dos átomos entre si ou em matérias ainda menores, como procedimento para harmonizar suas observações. O átomo se converteu num simples código para um modelo matemático, não em parte da realidade. A Mecânica Quântica é aceita até hoje devido ao seu pleno êxito, não por ser intuitiva e bela. Muito pelo contrário: os paradoxos que seu sistema geraria no mundo macroscópico desafiam o senso comum e intrigaram até seus criadores. Sua modelagem probabilística acabou com o sonho de ser prever qualquer evento, desde que fossem dadas as condições iniciais. O acaso entrou definitivamente na Ciência, pelo menos no microcosmo. Muita gente não gosta disso. O próprio Einstein não gostava disso exclamou: "Deus não joga dados". Mas parece que Ele joga, sim.
Até a Matemática que se achava acima das crises de paradigmas das demais disciplinas também teve seu choque. Os matemáticos se empenhavam na busca de um conjunto finito de axiomas do qual se pudesse deduzir toda a Matemática. O banho de água fria veio quando o Gödel demonstrou que qualquer sistema lógico é incompleto. Sempre haverá sentenças em que não se poderá decidir se elas são verdadeiras ou falsas e a inclusão de mais axiomas apenas retarda o surgimento dessa questão. Em suma, há verdades que nunca serão atingidas. Longe de ser desesperador isto é bom. É sinal de que a Matemática nunca irá se esgotar. Podemos criar álgebras e geometrias tão malucas quanto queiram nossa imaginação; só uma coisa é exigida: coerência. A Lógica libertou-se totalmente das amarras ao mundo real.
O olhar que as ciência lançam sobre o homem também mudou. Não somos mais o produtos acabado da evolução, não estamos à testa de uma fila indiana das espécies. Somos apenas um ramo de uma árvore ramificada, que é constantemente podada pela tesoura da extinção. Não somos os mais evoluídos; pois evolução não significa progresso, mas adaptação. Uma ervinha é mais auto-suficiente que nós e toda nossa inteligência não é garantia de vida eterna.
As causas primárias e finais voltaram. A busca por uma "teoria final" que unifique em um só campo a Relatividade e a Mecânica Quântica prossegue. Dela se espera poder se descobrir o que levou o Universo a ser do que jeito que é e qual o seu destino.
E o Espiritismo nestas mudanças? O fosso entre as metodologias da “ciência espírita” e as demais “ciências” do mundo material foi progressivamente aumentando:
Ciência | Espiritismo |
Comum novas gerações de cientistas refutarem trabalhos anteriores. Aversão à critérios de “autoridade”. | Medo de se distanciar da ortodoxia kardequiana. Culto à autoridade contido no espírito da Verdade ou Kardec. Há exceções, óbvio. |
Obras de grandes mestres (Principia Mathematica, Origem das Espécies, etc) ainda lidas como referência, fontes de valor históricos e como uma forma de adentrar no raciocínio do autor. Os estudantes, porém, usam bibliografia recente, expandida e corrigida. | Livros de Kardec ainda utilizados sem alterações, mesmo no que há de errado. Notas de rodapé corrigem alguns erros |
A lógica é usada como ferramenta apenas. O raciocínio precisa estar corroborado evidências. | A lógica é utilizada como meio de prova ou refutação de hipóteses, não havendo verificação de se a natureza pensa igual. |
O bom senso e a experiência usual nem sempre são seguidos (Relatividade e Mecânica Quântica que o digam. Idem para a “ação à distância” de Newton). Optam-se por soluções pragmáticas, ainda que esdrúxulas. | O senso comum, ao lado da lógica, é superestimado. |
Há grande discussão em torno da filosofia da ciência quanto à questão da melhor metodologia para o estabelecimento de novos conhecimentos (refutabilidade, crise de paradigmas, etc). | O conhecimento espírita ainda é majoritariamente indutivo, baseado em moldes científicos do século XIX (positivismo). |
Teorias inverificáveis, mas belas, são postas de lado. | Persiste a presença de hipóteses “ad hoc” inverificáveis para sustentar pontos nebulosos da doutrina. (ex: vida “invisível” em outros planetas) |
Apropriações entre ramos da ciência (malthusianismo no darwinismo, biologia na sociologia – darwinismo social, eugenia) hoje são vistas com reservas. | Apropriações correntes são feitas sem garantia de que são válidas (ação e reação, noções de mecânica quântica, etc.) |
Ciências que não têm acesso direto ao seu objeto de estudo (astronomia, história, etc.) lançam mão da análise indireta dos efeitos que chegam até nós. (espectro de luz, documentos históricos). | Pede um lugar “especial” entre as ciências por não ter acesso direto ao seu objeto de estudo (espíritos). |
Orações, Meditação e estados alterados de consciência são passíveis de estudo, mas isto não significa que seja verdade aquilo que seus praticantes dizem. | Verdades podem ser extraídas de “estados alterados de consciência”, vulga mediunidade. Contudo, nenhuma proposta rigorosa para a separação do joio e do trigo foi apresentada. |
Não faz afirmações morais. Descobertas podem, inclusive, entrar em choque com a moral vigente. | Produz cartilhas de certo e errado. Eufemismo são usados para se alegar que “não é bem assim...” |
O espiritismo tem uma quantidade maior de pressupostos, o que torna-o mais frágil.
Uma prova da sobrevivência da mente ao fim do corpo apenas prova isto: a vida após a morte; não garante nada a respeito da existência de um deus ou regras de "ação e reação" (karma).
Deuses podem muito bem continuar não existindo ou não dando a mínima para o que fazemos e até serem imperfeitos, que a vida após a morte não seria um contra-senso.
O budismo theravada vive muito bem sem um deus. A reencarnação pode ser um fato como muitos se esmeram em provar, mas ela tem mesmo de ser do jeito que Kardec diz?
Poderia se dar por um processo aleatório, independente de um karma; mais de uma essência (ou alma) poderia se reunir em um mesmo ou uma mesma essência se dividir para corpos distintos, possibilidade também aceita por vertentes budistas; novas almas poderiam ser geradas junto com feto, sem nenhum karma passado.
Deus, reencarnação, espíritos, karma; espíritas acham que estes conceitos forma um bloco monolítico e que a existência de um depende dos outros, o que não é verdade.
Há mais pressuposto que não foram ditos, mas apenas com estes eu pergunto: pode o espiritismo mudar ou até excluir algum deles sem ter que mudar de nome?
Se a resposta for um estrondoso SIM, quem sabe exista ainda um modo de mudar a atitude dos espíritas e dar-lhes mais rigor.
Se a resposta possuir alguma espécie de "se", então estamos diante de um religião ou, com boa vontade, uma filosofia, nunca uma ciência.
O espiritismo possui inspiração racionalista, mas isto não basta para fazer dele um campo de pesquisa.
Epílogo
Vim de meio espírita, achava a teoria bela e lógica.
Conforme fui amadurecendo, constatei que o suntuoso edifício do Kardecismo apresenta, no mínimo, sérias rachaduras.
O que quero é sacudir um pouco os fiéis para que respondam as lacunas.
Se eu ainda acredito em espíritos?
Não. Eles são muito mentirosos.
Vítor Moura (vitormoura@hotmail.com)
Nenhum comentário:
Postar um comentário