A polícia matou ontem no Egito 23 pessoas num conflito entre cristãos coptas - que compõem 10% da população do país - e as forças de segurança. Era a velho método Mubarak, só que, desta feita, matando gente sem muita importância: eram… apenas cristãos! Milhares de pessoas protestavam contra um ataque ocorrido contra uma igreja - um entre centenas.
Desde o início da badalada “revolução egípcia”, casas e templos dos cristãos têm sido incendiados por milícias radicais árabes. O novo governo é, para dizer pouco, tolerante. Os cristão decidiram demonstrar sua insatisfação - com protestos um tanto violentos, parece.
Seja como for, a junta que governa o país - os iluministas do Jabor - deram uma de Bashar Al Assad. O que são 23 cristãos massacrados diante da democracia árabe, não é mesmo? Morressem 23 palestinos um conflito com Israel, o mundo viria abaixo. O caso é o seguinte: palestinos tem pedigree humanista; cristãos do Egito não têm…
Isso estava escrito nas estrelas - ou, se quiserem, no Crescente Verde. No fim de março, Duda Teixeira, de VEJA, entrevistou Esam El-Erian, porta-voz da Irmandade Muçulmana no Egito, e ele deixou claro que seu grupo tem como objetivo assumir o poder no país no prazo de cinco anos e que tem uma agenda pronta para quando isso ocorrer. A entrevista foi feita no escritório de El-Erian na capital egípcia, próximo a um hospital popular sustentado pela Irmandade. E-Erian eviodencia ter o controle de milícias, acusa os partidários de Mubarak de incendiar as igrejas e censura as próprias vítimas!!!
Leiam a entrevista. Volto em seguida.
A irmandade pretende construir um estado islâmico no Egito, a exemplo do que ocorreu no Irã após a revolução de 1979? Criará leis para proibir o consumo de álcool ou saias curtas, por exemplo?
O Egito não é o Irã. Não é a Arábia Saudita. Não é a Turquia.
Então, qual é o objetivo político da Irmandade Muçulmana?
Isso depende da atmosfera e do contexto em que nos encontrarmos. Atualmente, nossa meta é conseguir a unidade nacional e instituir uma nova ordem no Egito. Isso significa uma nova Constituição, leis melhores e a retomada da economia, o que será muito importante nos próximos cinco anos.
Por que cinco anos?
Alguns políticos dizem que a transição vai durar seis meses. Outros falam em um ano. Nós achamos que essas estimativas estão equivocadas. A transição vai demorar cinco anos.
Por que a Irmandade declara que não almeja mais do que um terço das cadeiras no próximo Parlamento, cuja eleição deve ocorrer neste ano?
Nós não queremos a maioria no Congresso.
Por que não?
Porque, como eu disse, este é um momento de união, não de competição.
Será sempre assim? A Irmandade nunca vai querer mais do que um terço do Congresso?
Esta é a nossa estratégia há 25 anos. Estamos em um momento de transição, preparando o país para nossa próxima estratégia, a qual será iniciada após cinco anos. Só então haverá competição. Agora não há tempo para isso. O momento atual é de união.
Qual é o projeto de país da Irmandade Muçulmana para daqui a cinco anos, quando acabar o período que o senhor considera de união entre as forcas políticas?
Por favor, pare de fazer essas perguntas. Volte daqui a cinco anos e faça essa mesma indagação. Daí, sim, eu responderei (EI-Erian dá uma risada).
Como será o Egito daqui a cinco anos?
Por favor…
Que opinião o senhor tem a respeito das brigas recentes entre muçulmanos e cristãos coptas?
Isso é a contrarrevolução.
O Egito conseguirá manter-se estável durante essa transição, mesmo com esses conflitos religiosos?
Se conseguirmos evitar as intervenções de americanos e de israelenses, será muito bom. São eles os grandes perdedores dessa revolução, e não Hosni Mubarak.
O senhor está dizendo que americanos e israelenses incentivam as disputas religiosas?
Claro! Mubarak era um parceiro estratégico para eles.
Se é assim, por que americanos e israelenses não agem para permitir que Mubarak volte ao poder?
Se ele fizer isso, será morto.
Morto?
Depois de um julgamento, claro.
Eu e meu fotógrafo viajamos até Soul, onde uma igreja e casas de cristãos foram incendiadas. Os moradores muçulmanos nos impediram de entrar na vila, acusaram-nos de ser espiões estrangeiros e nos ameaçaram… Parece-me improvável que estivessem a serviço de americanos e israelenses.
Se quiser, posso dar o telefone de uma pessoa na vila de Soul para acompanhá-los em segurança.
Quem está ateando fogo às igrejas?
O pessoal do Partido Nacional Democrático (de Mubarak), os agentes da segurança de estado e os criminosos. Estou triste porque bispos e o papa Shenouda III (da Igreja Ortodoxa Copia) apareceram em público para reclamar dos ataques apresentando-se como cristãos. Isso não é bom.
Eles não podem declarar abertamente sua fé?
Os cristãos devem se defender como civis, não em nome de um setor da sociedade. Somos todos egípcios.
O clérigo muçulmano Yusuf al Qaradawi, apresentador de um programa na rede Al Jazira, do Catar e membro da Irmandade Muçulmana, diz que o marido tem o direito de bater na mulher, defende os atentados suicidas e acredita que os países islâmicos devem ter armas nucleares para aterrorizar inimigos. Qual será o papel de Qaradawi no novo Egito?
Ele visitou nosso país, ficou por três dias e voltou ao Catar. Aqui, é apenas uma voz entre muitas outras. Qaradawi apresentou um islamismo moderado, tolerante e pacífico para muitas pessoas. Por isso, muita gente confia nele. É um sábio.
Voltei
Eis aí. Os cretinos acreditam que uma “revolução” feita com alguma (não mais do que isso) influência do Facebook ou do Twitter será necessariamente progressista, como se esses canais não facilitassem também a divulgação de coisas estúpidas.
No irã pré-revolucionário, as mensagens do aiatolá Khomeini, o fascissta islãmico, eram passadas em fitas-cassete, a modernidade possível. A chamada “Primavera Árabe”, já comentei aqui, tem muito de inverno da esperança. Por enquanto, quem está vencendo a parada são os sectários.
Então vamos aborrecer dizendo tudo. O sanguinário Bashar Al Assad mata na Síria para conservar o poder. Está enfrentando milícias armadas. EUA, França e Reino Unido estão chocadíssimos. A Junta Militar que governa o Egito massacra - e não é a primeira vez - cristãos desarmados. E haverá, no máximo, um muxoxo. Se houver.
O cristianismo, a religião mais perseguida no mundo hoje, pode ceder mais alguns mortos à causa islâmica diante dos bananas do Ocidente, não é? Convenham… Não será a primeira vez.
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